Por ocasião da Ditadura Militar no Brasil, eu era uma jovem estudante secundarista ,de classe média, no interior de Minas, com formação religiosa e com sede de um mundo melhor. Um mundo que se preocupasse com os desvalidos, os famintos, operários, em que as crianças não apanhassem, enfim, um mundo em que as relações naturais de poder fossem pelo menos respeitosas.
Pertenci a movimentos religiosos, União Colegial da minha cidade. Fui professora alfabetizadora, trabalhei em órgão público de Educação e nesse sonho utópico de jovem era acusada de comunista.
Não posso nunca me esquecer das barbaridades ocorridas nessa época e do fantasma que se apoderou da ignorância de muitos. Os lados eram dois, os que estavam a favor da Lei e os Outros, os comunistas. Eu,como era falante, me via ameaçada de delação. Queimei livros. Na Faculdade particular, microfones monitoravam professores que não podiam citar o nome de Karl Marx, e nem "Freud" (risos) . A ignorância enlouquecia...Como professora era vigiada para não fazer reflexões "desnecessárias".No serviço público verbas desapareciam e os "protetores" cuidavam de mim para não dizer nada. Na capital ouviam-se gemidos e gritos vindos de uma sede do DOI CODI. E as torturas e mortes de jovens sonhadores, mulheres e operários que nunca pegaram em armas? Onde estão esses militares? Na minha cidade até hoje, nós, "os comunistas" que não suportam nehuma forma de ditadura, entristecemo-nos com a tortura de dois jovens operários da JOC; um desaparecido, o outro falecido. E ,eu,com a morte de um primo encantador. Essas pessoas levavam na alma aquilo que no seu último livro Frei Beto chama de Utopia do Coração.
Hoje , percebo jovens, mal informados, confundirem aqueles que resistiram ,heróicamente, à Ditadura em seus países com terroristas. É preciso que leiam o depoimento de pessoas intelectualmente sérias e esclarecidas como o professor e jurista Dalmo Dallari e outros escritores.
Desejo que o Lula seja pelo menos coerente com a Constituição.
Tenho todas as razões para desacreditar no poder de um país, de uma democracia duvidosa, mesmo porque nem Miterrand acreditou, tendo abrigado na França o escritor Battisti como refugiado político que é.
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