sábado, 4 de abril de 2009

HOMENAGEM

AO MEU IRMÃO FRED, do blog

http://www.theiaviva.blogspot.com/





Por ocasião de sua Graduação em Filosofia



O poema a seguir de sua autoria , quando ainda garoto, nos anos setenta, demonstra a sua verve filosófica instigada pelos tempos de opressão em que duramente vivíamos, e que transitavam dos valores irrefletidos da tradicional família mineira aos piores momentos da ditadura militar ,que não era, como muitos equivocadamente acreditam, "honesta". Embora, mesmo se fosse ,não justificaria. Desapareciam pessoas, verbos e verbas.



O MENSAGEIRO



O que pode um poeta
numa tarde de sábado,
quando o silêncio vem
mais tenebroso
que o trovejar de bombas?



Convocar os homens
para uma rodada de poquer?
E as mulheres
para a vigilância eterna
da castidade humana?



Um anjo, de longe,
acenou em fuga:
argumenta o contabilista
no arranjo final
de sua arquitetura contábil

Pois ora veja,
que os jornais falam de guerra
(da garra da guerra).
Falam até que o Barnabé
rimando com Malomé
comprou uma mula do Mané,
mas depois morreu todo mundo
depois das 6 da tarde.

E o que pode o poeta?
- Não mais chorar sobre os mortos.
- Não mais lamentar os destroços.
- Não mais remover os trastes
da fidalguia em conflitos de honra.



( os mortos cuidem
dos mortos ).



Da boca de um Arcanjo
dado a pileques suburbanos
vem a mensagem de vida
a despeito de todo ruído,
que tenta amedrontar
a rebeldia estética
da aurora que vem chegando.
E vem sem disfarce,
com uma claridade
que faz tremer
a mínima transação
no mercado da fome.

Desta fábula extraio dos trovões
a voz anônima e universal
que explode em sonora negação:



Não. Não haverá pactos
obscuros.
Nem conversa ao pé do ouvido
com coisa de quem tem medo
das revelações cristalinas.
Nem haverá sábado preguiçoso
de televisão e sol quente,
para depois o desespero
da noite que oculta tudo.



Com minha irreverência
medo e outras limitações
ensaio o verbo que se avizinha
para a mais autêntica
profissão de fé:



Haveremos de sobreviver
irmão que batalha.
Haveremos de recolher
no outono próximo
o resultado sem pretensão
deste canto de vida

E posto que me aprouve
o singular canto dos
visionários
já nem mais
será perguntado:
- e o que pode o poeta?
Pois o futuro
emerge como poema
na brisa leve da manhã.



Frederico Ozanam Drummond

do livro Anjo Vingador

Um comentário:

Frederico Drummond disse...

Minha querida irmã,

Receber uma homenagem sua, como o resgate deste poema, é mais do que eu devo mereceber (falo sem qualquer hipocrisia).

De qualquer forma virou uma oferenda, destas que colocamos em nosso altar.

Um grande beijo minha mana, um grande beijo.

O seu irmão
Fred (agora, residindo em Florianópolis)

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